06 março 2011

ATRASADO, MAS NUNCA EM BRANCO: GEORGE HARRISON NÃO É O TERCEIRO DO PÓDIO

Significa.
Antes de mais nada, uma reparação de um harrisoniano de ouvido aberto: quem conhecia e achincalhava a carreira solo de Paulo McCartney Soares guiando-se apenas pelo inviável ‘McCartney I’ e pelo perebento ‘Tug of War’, como eu, paga a língua terrivelmente quando se aprofunda com seriedade no trabalho do sujeito. Eis então um raríssimo – e porque não único – momento de reconhecimento de um sério erro neste blog perfeito e sem rasuras: McCartney não é o nosso mr. Mais ou Menos na carreira solo. É um criador monstruoso. Erra muito, conhece o piegas pelo lado de baixo e tem um curioso talento para acariciar inacreditáveis porcarias em sua discografia semi-zappiana (fodam-se; pesquisem). Mas suas joias não são o tipo de coisa que alguém irá superar semana que vem. Guiando sozinho, é o melhor de todos os quatro.

Se McCartney é o rei apolíneo da beleza maiúscula e Lennon o sultão dionisíaco das baladas afiadas, nada restaria a Jorge Harrison a não ser o cetro de um bocó ressentido e invejoso; ou a pecha de sequelado que nunca resvalou na pata da ameba situada sobre os ácaros das células epiteliais de seus dois ‘algozes’. Só que essa teoria, difundida entre os admiradores mais carniceiros da maior dupla sertaneja de Liverpool, é ignorante e surda. A carreira solo de Harrison é assustadoramente brilhante. E aparentemente mais influente na carreira dos outros do que as dos outros na dele. Apesar de ter sido provavelmente assombrado pela eterna mágoa  ególatra dos coadjuvantes, o guitarrista solo dos Beatles se encontrou. E empatou com as outras duas baleias.

Sua discografia dá um chega pra lá na de Lennon aqui ou ali, mas, no conjunto geral, não supera a de McCartney. Só que há um ponto a favor do nosso amiguinho orientalista: sua lista de trabalhos não apresenta discos inteiramente ruins, como alguns que atentam contra a moral e o patrimônio de sir Paul. A má notícia é que Harrison também não nos legou um long play integralmente genial. O que não significa que coisas como ‘Dark Horse’, ‘George Harrison’ (1979) e ‘Cloud 9’ precisem ficar na mesma prateleira que o inominável ‘Tommy’, do The Who ou de qualquer coisa do The Monkees.

Não vou dissecar a discografia harrisoniana aqui. Ando ocupado demais com o dever de NÃO terminar um post que prometo desde 1432 – um aí sobre as dez coisas mais ou menos da discografia nacional de 2010. Mas é possível reparar, de forma imediata, a aversão de alguns proto-humanos em torno do trabalho do nosso protagonista, aniversariante do último dia 25 de fevereiro e um dos casos de subestima estética mais sérios de todos os tempos. Divirtam-se. Ou morram.






























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