12 outubro 2012

HERÓIS DA INFÂNCIA


Tá tliste 
[confiram meu novo blog http://igmatheus.blogspot.com.br - política, cultura e comportamento.  Não é vírus]
Eu faço pose de sofisticado há muito tempo. Mas hoje vou exagerar. Enquanto você teve Balão Mágico, eu tive Jean Michel Jarre, Vangelis e Kitaro. Enquanto você teve Simony e Sandy e Junior, eu tive Claudio Abbado regendo a Sinfonia no. 40 de Mozart e as danças húngaras de Brahms. Enquanto você teve José Augusto cantando 'Agora Aguenta Coração', eu tive Peter Cetera e temas famosos de westerns e clássicos da MGM. Enquanto você teve Kiko Zambianchi arruinando Hey Jude e Leandro e Leonardo, eu tive Benito di Paula, Paulo Diniz e o grupo Polegar. Peraí. Benito di Paula, Paulo Diniz e o grupo Polegar não são tão dignos de orgulho assim. Não deveria nem ter mencionado isso. Mas o pior é ter gostado de Spice Girls. Aos 14 anos, tinha até uma queda razoavelmente séria por Victoria, futura ms. Beckham, e pela harmonização vocal de ‘Say You’ll Be There’.

Pouco tempo depois, me emprestariam uma fita de Scorpions, outra de Led Zeppelin e o “Wish You Were Here” do Pink Floyd. Minha vida anterior se transformou em um oceano de cinzas – até eu fazer as pazes com Jean Michel Jarre e Claudio Abbado. Mas isso não apaga Spice Girls e Polegar do meu currículo. Minha infância foi ridícula.

Mas admita. A sua foi muito pior.

Jean Michel Jarre – Rendez Vous III

O sujeito fazer toda essa pantomima sobre um monte de luzes era algo absolutamente normal nos anos 80. O que não era normal era o som ser, de quebra, uma peça com esse nível. Foi uma das coisas mais decisivas pra formar minha vontade de tocar teclado.



Bônus: Jean Michel Jarre – Ron’s Piece

Na verdade, quando criança, era viciado no Live in Houston/Lyon, mas odiava isso aqui. Quando voltei a escutar já adulto, odiei ser criança. É inacreditável. 



Paulo Diniz

Paulo Diniz me aterrorizou a infância inteira. Porque, segundo minha mãe, essa voz rouca era resultado de horas intermináveis de choro e enchimento de saco. Como eu fazia. 



Roupa Nova – Coração Pirata

Provavelmente a primeira letra que aprendi, já que, até ali, só me interessava por instrumental. Passava na televisão com mais frequência do que as chamadas de Tieta. Até hoje gosto disso. Graxeiras e estudantes de supletivo, uni-vos. 



Jules Massenet – Meditation from Thais

Meu namoro com o erudito começou aqui. Eu tinha 5 anos. Não me lembro se ‘Meditation’ era uma daquelas peças de novela ou não. Sei que fazia parte de um disco da Sony chamado ‘Classics’, muito popular na época. Eu merecia um prêmio da Sony pela dedicação dava a esse bolachão. 



Mozart – Kyrie Eleison

Escutei isso tantas vezes que seria capaz de compor uma fuga quando quisessem. A linha dos tenores me deixava maluco. A dos baixos, insano. Abriu meu ouvido pra sempre. 


Spice Girls – Say you'll be there

Puta merda, esse tem que ficar no fim. Preciso manter minha reputação com os headbangers do Whiplash. Inclusive entre os que escutam isso até hoje de madrugada, escondidinhos, e usando uma luvinha preta.

Se eles encontrarem esse vídeo e acharem muito ‘girly’, talvez prefiram essa versão aqui:



15 agosto 2012

JOINHA DE MÚSICA / BOSTINHA DE CLIPE II





I HEAR YOU NOW (JON AND VANGELIS)

Qual é a da música:
Uma boa peça da dobradinha Jon Anderson e Vangelis, encontro ocasionado pelo cansaço que Jon Anderson estava sentindo de não estar no Yes e do cansaço que Vangelis estava sentindo de ser chato.

Qual é a do clipe: 
Pouco depois do lançamento dessa canção, Vangelis ganharia um Oscar. É crucial que se saiba que não foi nem em roteiro nem em direção artística.

Observações:

1)    Legal a dancinha... (“rsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrs”)

2)    Jon e seu escapulário de Itu atochadinho na garganta. Não dá pra acreditar que isso era levado a sério. Mesmo em 1981. 

3)    Esse palhaço no meio sou eu dando ibope pro clipe. O da direita é você dando ibope pra mim. O da esquerda é o cara que me lê escondido sem saber que isso também dá ibope pra mim. 

4)    Olha lá o minimoog no céu de Santo Amaro. O que quer dizer apenas uma coisa: Vangelis, o machão comedor de gregas, se recusou a dividir a tela com um bailarino de Hair e uma gargantilha gigante. Preferiu repassar a bronca para o seu pobre teclado.  

5)    Legal a dancinha... (“rsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrs")

14 agosto 2012

JOINHA DE MÚSICA / BOSTINHA DE CLIPE I


VITAL SIGNS (RUSH)

Qual é a da música: 
É simplesmente a peça de fechamento do 'Moving Pictures', um dos três melhores discos do Rush - senão o melhor - e um dos pouquíssimos acertos do rock progressivo nos anos 80. É também uma das melhores peças de encerramento de qualquer disco gravado de 1900 pra cá.

Qual é a do clipe:
É um filmeco de divulgação apenas pra mostrar os caras tocando. Ou mais um trabalho pra confirmar o quanto Geddy Lee é aterrorizante, o quanto Neil Peart realmente maltrata a bateria e o quanto os três ficavam muito mal de óculos escuros.

Observações:
1 - Vejam que o filmeco parece ter sido feito pra pagar o estudio. Graças a ele, todos sabemos que o Le Studio existe. E que o Rush gravou lá. Faça já sua reserva.

2 - Neil Peart está disfarçado de treinador de Pokemon.

3 - Gedy Lee está disfarçado dele mesmo.

4 - Sabe o cara que inventou esse fade in em cinza aos 2m50s? Não seja esse cara.

5 - Alguem esqueceu a marmita em cima do atabaque a exatos 4m07s.


02 julho 2012

ESPECIAL CLUBE DA ESQUINA



É difícil escapar do coro: é realmente ‘paudurescente’ – obrigado, Lobão – a Globo transmitir uma coisa como essa. Mas assistir isso na hora em que foi exibido é como esperar ansiosamente pelo próximo episódio do Telecurso. Viva o Youtube, o povo paraguaio e a seleção da Espanha.

Duas observações: a primeira para o estagiário da mesa de edição. ‘Fernando Brandt’ é um empresário têxtil. A segunda é sobre o “adeus ao velho barroco mineiro”. Ficou engraçadinho. No mau sentido. E não achem que essa é a coisa mais chata que direi aqui.

Mas que se registre antes de mais nada: mais vale um especial Clube da Esquina do que 20 ou 30 anos de Show da Virada.

1 – Para Lennon e McCartney (Milton e Lô)

Lô Borges sem guitarra é uma grande perda de tempo. É duro ver uma cena como essa em qualquer lugar. Se no meio da transmissão Marcio Canuto aparece falando das gostosas do carnaval de Olinda, veremos que o boneco de 3 metros de Carlinhos Cachoeira ali atrás tem mais jogo de cintura que nosso gênio orelhudo. E o que dizer do sr. Nascimento. Certa vez fiz um texto contando o quão constrangido eu ficava a cada aparição nascimentiana na televisão. Era um negócio realmente agressivo, determinando o absoluto fim de sua carreira e a ainda mais absoluta necessidade de que ele revisse seu visual Stevie Wonder de plástico. Aqui ele não fede nem cheira. Assim como essa canção, que já deu o que tinha que dar. O batuquezinho do introito é só uma forma que arranjaram de expressar um ‘estamos tão cansados de ouvir essa trolha quanto vocês, mas a gente tenta se divertir’. Lô, meu brother, arranje uma fucking-guitar e me grave outro “Um Dia e Meio”. Miltão, não quero mais te ver, cara. 


Ói o remelexo do moleque...


2 – Tudo o que você podia ser (F. Takai e As Minas)

Que é isso, véi. Que coisa linda. Pela primeira vez estou pouco me lixando para o incômodo de saber que não compraria um disco dessa banda que acompanha a Takai. Esse sonzão ‘Cidadão Instigado encontra o Kassim no seriado do Shaft’- embora eu pague pau pra várias ideias do Kassim – nunca me atraiu. Mas seria massagista,  psicólogo e roadie de calcinha quando elas quisessem. E a levada funkeada renovou a canção, deixando-a mastigadinha para o pessoal da calourada em Ciências Sociais. Boa releitura da banda e boa leitura de Takai – não dos vocais, mas da letra que estava impressa no suporte mesmo. 

A prima "bem comissionada" da Dani Suzuki mandando ver no groove.

3 – Sal da Terra (Felipe Catto)

Esse Felipe Catto deve ter saído do último Ídolos como a nova Daniela Mercury. Nervoso com a presença de Camila Pitanga, ele deve ter pensado em ir mais longe:  imaginou o que deveria acontecer caso o My Chemical Romance resolvesse fazer um cover de Beto Guedes com o figurino de Willy Wonka. É claro que daria sarapatel. Beto Guedes cometeu vários erros na carreira – como dar entrevistas –, mas sua versão de “O Sal da Terra” é o tipo de coisa que não vai ser superada. Escolha arriscada de repertório, interpretação afetadíssima e a banda meio que se escondendo, fazendo o tipo “meu, o show é do cara aí... tenho nada a ver com isso”. Resultado: Jaqueta “A Fantástica Fábrica de Chocolate de Freddie Mercury” 1 x 0 Filipe Catto. 

Sem mais, meritíssimo.

4 - Sol de Primavera (Kamy)


E tome Especial Beto Guedes. E lá estão Jorge e Mateus para... não são? Que bom pra eles. E melhor ainda para eles é que a versão ficou à altura do desafio. Se “Amor de índio” é a Yesterday de Betão, “Sol de Primavera” é sua Hey Jude, e é o tipo de coisa que geralmente não precisa ser mais martelada. Mas aqui ninguém fez feio. E mesmo que quisessem fazê-lo, estariam lá os caras que acompanharam Milton e Lô na primeira performance para salvá-los. Mas o visual de galã de balada de um e a pegada de violão do outro não despistam: eles saíram de lá direto pro backstage de Fernando e Sorocaba.  




Os galãs mandaram bem.

5 – Paisagem da Janela (Megh Stock)


Quase ficamos Diante do Trono, mas deu tudo certo.

Vocal de gospel brazuca, background de gospel brazuca, pegada de gospel brazuca... e ficou interessante. “O que você tem contra gospel brazuca”? O gospel local é uma merda. Se nos EUA é necessário ouvir o gospel para entender o que acontecerá na black music dos próximos 10 anos, aqui é preciso ver o que de pior aconteceu no sertanejo e deixar em banho-maria por 10 anos para atingir o nível de diluição do gospel verde-amarelo. Mas Megh Stock trata a canção com carinho, e a renova com competência – e alguma irreverência. Se ela continuar assim, dá pra pagar mais ao dentista e tirar logo o aparelho.



6 – Um gosto de sol (F. Takai e As Minas)

Escolha estranha de canção. Exatamente por ser um pedaço de hermetismo dentro do Clube, que é brilhante também por causa desse colorido. Mas para um especial de televisão de canções com dois ou três minutos, ainda é uma opção complicada –mesmo que Takai, que já a gravou com o próprio sr. Nascimento, estivesse familiarizada com ela. Difícil é dispensar a segunda parte, praticamente um hino melódico dentro do movimento – e muito bem aproveitado pelas princesas. Talvez o melhor fosse começar com esse trecho indispensável e concluir com algo como ‘Nuvem Cigana’. Ponto, entretanto, para a preservação da nudez do piano. Os fãs de Gustavo Lima insones em casa precisavam saber, ao menos uma vez na vida, o significado de “harmonia”.

 7 – Feira Moderna (Felipe Catto)

Willy Wonka é mesmo uma criança irrequieta. E agora o negócio dele é alterar a harmonia. O problema é que alterar a harmonia é coisa para poucos. É corajoso, às vezes necessário. Mas quando o objetivo é tornar as coisas um pouco mais econômicas, não mata quando se tem algo para compensar – como uma pegada muito mais marcante, por exemplo. Nosso Johnny Depp de loja de departamento e sua patota não fazem isso. E “Feira Moderna” fica meio anêmica, nem rock nem rural, e restrita a ser um intermezzo sem graça desse musical sobre jaquetas que Felipe Catto finge protagonizar.

8 – Trem Azul (Lô Borges)

O próprio Lô Borges possui versões gravadas e ao vivo muito superiores a essa. O que tocaram aí foi só um registro de fadiga em torno da insistência de se executar um troço que não se renova. Só que Lô é um cara legal. Ele não quer desapontar produtor nenhum, principalmente depois que o ameaçaram de fazer um especial “Willy Wonka canta Salomão Borges”. Mas ele bem que poderia ter mandado um ‘Ruas da Cidade’, uma canção de grande apelo melódico, do repertório do ‘Clube da Esquina 2’, e que não se vê ao vivo desde... desde nunca, mermão.

9 – Nada será como antes (Megh Stock)

E como as coisas melhoram quando Reginaldo Manzotti para de olhar feio pra banda do fundo do palco e a deixa respirar. A esplêndida harmonia da canção está toda lá, e os arranjos exploram bem todo o potencial que a canção tem para vibrar um palco. Uma versão que deveria ser gravada.

10 – Um girassol da cor do seu cabelo (F. Takai e As Minas)

Lô Borges estava no estúdio essa hora. Ou ele chorou de satisfação, ou socou a punheta de sua vida. É verdade que o início desperta a desconfiança de que Otto entrará a qualquer momento. Mas depois disso o panorama econômico melhora, e muito. Além de tocarem o que tocam, as mocinhas harmonizam os vocais muito bem e encaixam na voz de travesseiro de ms. Takai Ulhoa. E o xote do trecho final é tão mais interessante do que a ingênua levada original que deveria ser adotada pelo resto da vida do nosso querido Salomão, que deve estar até hoje atrás do Facebook da japinha peituda da guitarra.

11 – Vera Cruz (M. Nascimento e Wagner Tiso)


Milton Nascimento deveria se juntar a Roberto Carlos e tirar umas férias em Andrômeda, na vizinhança da casa de verão de Baby do Brasil. Mas um sumiço assim, deixando a discografia. Wagner Tiso pode ir também, mas daqui uns cinco anos. Acerca de Vera Cruz não há muito o que dizer. As versões instrumentais de trios de jazz se empilham até a lua no Youtube. É uma canção brilhante, mas cansada. Uma canção cansada cantada por um sujeito cansado acompanhado por outro sujeito cansado simplesmente... cansa.

12 – Nascente (Felipe Catto)

Tem alguma coisa errada com esse baterista de Willy Wonka. Porque parece que o sujeito está imerso em uma eterna virada. Sua performance é exatamente isto: uma virada infinita. É por isso que as versões das demais bandas soam como canções revisitadas, e as dessa banda de Felipe, como vinhetas longas demais.

13 – Cravo e canela (Megh Stock)

Aí chega a banda pré-gospel de Megh e faz praticamente a mesma bosta quente que a banda de Willy Wonka agora há pouco. Até puxada a la Riquelme o baterista se propõe a fazer no meio da confusão percussiva que ficou isso aqui. É tudo tão arrastado que, se fecharmos os olhinhos, veremos Joyce nua e dopada cantando o tema de Pantanal dentro de um igarapé.

14 – Veveco, Panelas e Canelas (F. Takai e As Minas)

E o especial Beto Guedes termina com uma versão comportadinha de “Veveco” que, convenhamos, não dá muita brecha para gracinhas e firulas. Fernanda Takai segue seguríssima sobre o background de suas talentosas gatinhas, mas o especial segue muito longe de ter um final apoteótico. Foi válido por ser ao menos uma versão dessa canção além do esforço sôfrego e doentio de Beto Guedes de continuar executando-a por aí.

30 junho 2012

Cinema: “PROMETHEUS”, de Ridley Scott

Momento "agora a porra ficou séria"

Resumo:
Patota bem heterogênea sai atrás de respostas – pra várias questões – em uma lua perto de Putaqueparilópolis a bordo de um velocípede espacial apelidado ‘Prometheus’. Depois da aterrissagem, dois mais dois começa a dar oito. E o resto só titio Ridley Scott mesmo pra estragar. 


Nota: 4,18



Se quiserem realmente acabar com o mundo para evitar outra edição do Rio +20, que façam um experimento genético entre Ridley Scott e a Mulher Melancia. Porque do jeito que o diretor inglês é um bundão, sua fusão com um rabo ambulante engoliria a galáxia como se ela não passasse de um supositório de cereja. 

A mais nova bundice de mr. Scott se revela sob todo o desperdício de enredo, de recursos, de atuações, de altíssima qualidade sonora, de questionamentos, de atalhos roteirísticos, do cacete a quatro que vem embutido no seu ‘Prometheus’. A cada minuto e pouco de um novo clichê – ou de alguma cena tão brilhantemente construída que desperta nos providos de bom senso uma inominável vontade de que mais nenhum personagem abra a boquinha –, o irmão ranzinza de Tony Scott mostra que nunca teve muito tato pra direção geral: seu negócio mesmo é a direção artística.

As obras de Scott pós-Blade Runner trazem duas características recorrentes: ingenuidade dolorosa e orçamento de Olimpíada. Há um terceiro fator, entretanto, que emerge do confronto dos outros dois: o entorno. Se Scott for legar algo ao cinema, será justamente seu apuro e cuidado na construção dos cenários e na sensação de que se está em um ambiente soberbamente alienígena – mesmo em retratações de época. É por isso que a segunda coisa que mais se lembra de algo como ‘Alien’ – depois dos mamilos de ms. Weaver – é o horrendo traço biomecânico de H.R. Giger, talvez a mais indelével influência das artes plásticas na ficção científica cinematográfica.

Em “Prometheus”, a excelência gráfica é levada às últimas consequências. Tudo é incomensurável, de dimensões inaceitáveis, inacessível às insignificantes referências humanas. Eloquente, a cenografia é extremamente eficiente em propor, com sua escuridão insistente, uma grandiosidade adormecida.

O problema é que faltou roteiro. E um pouco de silêncio. Ao invés de transmitir para os personagens o nível de contemplação que parece exigir de seu público, Scott e seus roteiristas de Dragon Ball Z enchem a boca dos protagonistas de mesquinharias. O esforço de fazer com que cientistas do fim do século XXI tenham vocabulário e cosmogonia de pit-boys transformou o que seria uma privilegiada expedição de peritos em uma tour de fracassados que poderiam completar, sem prejuízos, o cast de qualquer um dos dezessete “Velozes e Furiosos”.


Sim, ferraduras podem voar.

É claro que ninguém precisa recorrer à afetação cientificista de Star Trek, com roteiro em alemão arcaico e citações de Plutarco no começo, no meio, nas coxas torneadas de Noomi Rapace e em cima do crédito do cabeleireiro de Charlize Theron. Mas a ambição do tema e o caráter épico e pioneiro da missão não encaixam com a necessidade de aproximar a plateia do que está sendo mostrado. O enredo está em um nível alto demais para que a empatia do público com os personagens seja algo preocupante. Quando o HAL 9000 de Stanley Kubrick diz que a rebimboca-estagalamétrica da nave deu defeito na zona Who-Cares-48, ninguém quer ver Woody Allen com roupa espacial movida a jatos de autodepreciação sair pra dar uma olhadinha. É preciso alguém muito mais invulnerável para aturar a imensidão das dúvidas que aparecem.

A verdade é que “Prometheus” deveria trazer personagens que dissessem muito mais com olhares estupefatos do que com falas deletadas de “Avatar”, e mais distantes de nossa tagarelice e previsibilidade reativa. É humor de péssima qualidade para um sci-fi colocar um sujeito para viajar  quilhões de anos-luz, acordar de um sono de dois anos e, diante de tanto a se pensar, deixá-lo preocupado com questões tão fundamentais quanto o inchaço de suas bolas.

Doze em cada dez resenhistas costumam justificar a falta de consistência de um filme como esse atirando bombas de cocô na acefalia da juventude atual – e na necessidade do mercado cinematográfico de masturbá-la. Mas os problemas parecem ser bem mais complexos do que sugere esse fatalismo "adorniano". É difícil saber o que faz com que um cineasta com a ficha corrida de Scott ainda acredite que tenha que se diluir escandalosamente – porque “Prometheus” é a exata filmagem disso – em nome de alguma coisa que se acredita ser “acessibilidade”. Porque acessibilidade é a puta que o pariu.

“Senhor dos Anéis” é um caso emblemático para enterrar de vez besteiras como essa.  Apesar de sustentada sobre um dos textos mais densos e rebuscados de que se tem notícia no cinema de entretenimento atual – graças à fidelidade shakespeariana aos devaneios medievalistas de Tolkien –, a trilogia se sustenta, até hoje, como a ideia mais rentável e copiada do cinema nos últimos dez anos. Com sua estética sci-fi de luxo sublinhada pelo roteiro de algum episódio de Hannah Montana, “Prometheus” é só um esboço do que poderia ter sido. E incha ainda mais o terrível legado das ‘prequelas’, um departamento que ainda não conseguiu somar, ao cinema atual, um único acerto.

14 junho 2012

"GENESIS"? HA HA




Saudosismo é uma merda. Não serve pra nada. Não percamos tempo com ele. Eis então, na nossa programação dedicada ao hoje, ao já, à atualidade, um grupinho recém-criado em uma garagem qualquer de uma ilhota qualquer do Mar do Norte. Pelo nome, deve falar muito about the fucking church, o que com certeza irá gerar problemas, processos e cruzes incendiadas nos quintais de seus desconhecidos e ingênuos integrantes lá na frente. Traz várias influências de Dream Theater, Transatlantic, Spock's Beard, essas coisas aí. O clipe é uma bosta. Tentaram transmitir um negócio meio 1976, mas ficou parecendo a Bandeirantes. Mas a pecinha é OK. 

Quem quiser conferir o disco inteiro desses pivetes, favor acessar isso aqui:



13 junho 2012

CHESNOKOV



Não sei quem é esse Chesnokov, Pavel. As informações sobre ele só dizem que foi mais um compositor russo que se fodeu nas mãos do sovietismo e seu medinho de manifestações religiosas. Então vejamos o excerto acima e partamos, a seguir, para um exercício: descobrir de que forma exatamente o socialismo pretendia construir um novo Homem incinerando da história coisas como 'Gabriel's appeared'.

03 abril 2012

CINEMA: "Guerreiro", de Gavin O’Connor

Dana White já pegou o celular dos dois



Resumo:
Dois irmãos que não se bicam – um ex-fuzileiro do exército americano e um professor de física fissurado em luta livre – se metem em um campeonato de MMA com atletas de ponta para faturar a fortuna prometida. O destino que ambos querem dar ao dinheiro é nobre. E no meio de tudo está o pai beberrão, que quer se redimir com os dois mesmo treinando, apenas, um deles.

Nota: 7,27



 Quem detém os direitos de distribuição de ‘Guerreiro’ deveria não apenas ser demitido sumariamente, mas preso e submetido a sessões diárias de sodomia. Sustentado em irretocáveis e ultrarrealistas cenas de MMA, o filme de 2011 sequer passou perto da salmonela que repousa sobre as pipocas do chão de qualquer sala de cinema brasileira.

Se há motivos para que um filme que trate de MMA não seja devidamente disseminado no país em que a modalidade mais se popularizou, que sejam apresentados imediatamente, sob juízo e com a presença dos pais do réu. É abaixo de infantil traçar fórmulas para o sucesso, mas há várias razões para crer que um filme como esse seria carregado pela multidão extasiada no país mais recorrente dos pesadelos de Chael Sonnen. 

Só que ganha um doce quem souber a que esse ‘Guerreiro’ se propôs no final das contas. Porque, pelo seu final, tudo não passou apenas de pretexto para uma grande luta de clímax – o que é ótimo e poderia acontecer a cada 15 minutos, mas não resolve nem 16% dos problemas que foram colocados na primeira metade da trama.

A sensação predominante é a de que o roteirista vendeu ao espectador um DVD que, quando tirado da embalagem mais tarde, em casa, só traz em seu interior um adesivo do Corinthians. Eis o que acontece quando se passa metade da obra no desenvolvimento de situações que o financiador da película, muito provavelmente, solicitou para suprimir educadamente aos gritos (atenção: isto é uma estimativa).

Apesar da satisfação que emana do excelente confronto final, ‘Guerreiro’ não é necessariamente um drama de irmãos, mas uma obra com um único protagonista: o MMA. Mesmo assim, há certo esforço coletivo para nos convencer de que a preparação dos personagens não aconteceu apenas na academia de Steven Seagal.

Tom Hardy, por exemplo, é um ator curiosíssimo. É difícil acreditar como um sujeito pode ser tão bonito e absolutamente nojento ao mesmo tempo. Aqui, ele se contorce sobre o peso de seus horríveis ombros inflados em alguma academia do subúrbio de João Pessoa, grunhe “fuck off’’s pro seu querido pai a cada cinco minutos e destrói narizes alheios com a delicadeza de um coice de girafa – o pior que existe, segundo manuais de inutilidade. Seu Tommy é visceral e convincente, embora prejudicado, diante de plateia pensante, por ridículas inserções jornalísticas sobre seu heroísmo como fuzileiro.

Já o australiano Joel Edgerton tem a cara de macho que Leonardo Dicaprio nunca vai ter e o abdômen que Stephen Dorff está tentando adquirir há 38 anos. Seu Brendan Colon, o professor de física que luta escondido da mulher em ringues de vigésima terceira categoria, lhe exige apenas fisicamente – o que, convenhamos, não é pouco. Marido fiel, de fala mansa e parceiro da garotada, Colon é o herói eleito pelos roteiristas para apanhar muito e chutar algumas bundas anabolizadas até seu destino final. O que obriga Joel Edgerton a carregar duas bandeiras: a de ser um clichê terrível revestido de um personagem cujas falas conseguimos prever três anos antes; e a de fazer um lutador de MMA com abdômen de granito em um filme realista sobre semi-assassinatos em pay-per view. 


O que não dá pra entender é porque Nick Nolte foi indicado ao Oscar por seu personagem aqui. Seu papel é repetitivo e sem grande profundidade. Vá lá: tem um momento específico de grande rompante de descontrole, sempre adequado pra cara de buldogue sem focinho de Nolte – e para os flashes dos indicados ao Oscar – , mas nada que o posicione como uma grande força de um ano inteiro. Longe de ser um fenômeno da natureza, a interpretação do velhote seria mais um penduricalho para conferir um pouco de credibilidade dramática ao que poderia ser apenas um filme sobre pitbulls se engalfinhando. Mas quase passa batida.

O vazio que ambienta o fim de ‘Guerreiro’ denuncia que o diretor Gavin O’connor e seus amiguinhos queriam apenas mostrar o MMA como tema cinematográfico. No fim das contas, nenhum drama paralelo foi satisfatoriamente resolvido – embora o vácuo deliberado seja um recurso utilizado muito antes até de Machado de Assis – e a aposta do filme recai inteiramente sobre o êxtase de saber qual dos dois brigões vai se sair melhor.

Mas nem esse segredinho Gavin O’connor soube esconder. Pelo menos de quem sabe ver clichês de roteiro em cima de um octógono. No fim de tudo, o grande perdedor é o dono da distribuidora do filme: se ele tivesse mandado a película pros multiplex tupiniquins, talvez estivesse, agora, montando um UFC particular.

28 março 2012

O 69 DE RACHMANNINOFF


"Meu polegar? Tá aqui, coçando as costas''

Enquanto a Academia decide se Sergei Rachmaninoff era um pianista sobre-humano brincando de compositor ou um extraordinário criador que de vez em quando dava uma de Liszt - há quem o diga que nem uma coisa nem outra, mas não mais do que um "açucarado romântico tardio" -, lembremos que em um 28 de março de plena Segunda Guerra (1943) ele resolveu dar o fora de tudo isso aqui. 

A seguir, duas interessantes lembranças: a de que o russo tinha patinhas privilegiadas; e a de que elas lhe serviram para alguma coisa.  




14 março 2012

AI SE EU LUCRASSE

Olha que lindo:

Justiça bloqueia dinheiro arrecadado com sucesso de Michel Teló

"Ó, Ecad, por que me abandonaste..."
 
De acordo com os documentos divulgados pelo TJ da Paraíba, Miguel de Brito Lyra Filho, juiz da 3ª Vara Cível de João Pessoa, concedeu uma liminar favorável às três estudantes que supostamente teriam criado a música Ai Se Eu Te Pego, famosa na voz de Michel Teló. Com a decisão do magistrado, todo o dinheiro arrecadado com a venda ou execução da música está bloqueado até julgamento do caso.

(...)

As três estudantes, Marcella Quinho de Ramalho, Maria Eduarda Lucena dos Santos e Amanda Borba Cavalcanti, dizem ter criado a música durante uma viagem para a Disney, em julho de 2006. Na ocasião, uma amiga estava interessada por um dos guias turísticos e, por não poder se relacionar com o profissional, criou a frase "ai se eu te pego". Ainda durante a brincadeira, se inspiraram na música Ai Delícia, do Parangolé, para acrescentar à melodia.

A música chegou à cantora Sharon Acioly dois anos depois, durante uma viagem das meninas a Porto Seguro, na Bahia. Durante um show, elas foram convidadas para subir ao palco e lá ensinaram a frase para Sharon. Desde então, a cantora passou a usar a letra e melodia durante seus shows, atribuindo a composição às três vocalistas paraibanas. Com o sucesso de Ai Se Eu Te Pego no Brasil e no mundo, as estudantes querem receber os devidos valores pela execução da faixa.
(fonte: Terra)


Muito bem, senhoras. Ao estilo Kibe Loco, qual o melhor comentário pra isso aí?

1)    A Disney também entrou com um processo para ter sua parte nos direitos;
2)    Bruno e Macarrão deveriam seguir o exemplo e também assumir seus crimes;
3)    Com o bloqueio do dinheiro, a Teló Produções terá de viver de despedidas do Exaltasamba;
4)    A Ultragaz que se cuide com os van Beethoven;
5)    Até ano que vem, descobrirão que ‘Ai se eu te pego’ foi criada em um momento de fúria de Barbosa, goleiro da seleção brasileira da Copa de 1950;
6)    Até ano que vem José Ramos Tinhorão descobrirá que ‘Ai se eu te pego’ é um manifesto de resistência anticapitalista de Patativa do Assaré.

Nessa disputinha, que vença o pior.

13 março 2012

DISCO DO DIA: "FRAGILE'' (YES)



O disco ‘Fragile’, da banda inglesa de rock progressivo Yes, fez 40 anos em janeiro deste ano. Adele aporrinhou meia humanidade lamentando sua obesidade mórbida e jogou imprensa, carreira e relevâncias pra lateral. E o saldo disso aí é que nem os blogs especializados em inutilidades, que adoram datas fechadinhas, lembraram do marco. Nem eu. Provavelmente, até, nem o Yes.

Lembrar de datas como essa não tem importância pra ninguém além dos detentores dos direitos dos Beatles, que devem requentar gravações e sobras e penduricalhos até pra celebrar os 26 anos da surdez de George Martin. Mas é um pretexto interessante pra manter o blog atualizado. E porque “Fragile”, além de referência do progressivo com reputação de cláusula pétrea, é prenúncio do que seria a maior contribuição do Yes para a população: o “Close To The Edge”, o ponto máximo de todo o rock progressivo – também quarentão esse ano - e o tipo de coisa que o Dream Theater jura fazer todo ano, mas, até o momento, sem apresentação de provas.


‘Fragile’ é uma coletânea de pequenos exibicionismos pessoais com o acréscimo de quatro faixas da banda inteira. Diz a lenda que foi gravado às pressas para pagar despesas de equipamento. Mais detalhes no Wikipédia. O que interessa é que a pressa, aqui, virou amiga da quase perfeição. E gerou uma obra fundamental para entender porque Chris Squire nunca foi destituído do posto de maior baixista Rickenbaker da história. 

Essa vitória-régia de violas não pegou bem, véi.

12 março 2012

A MARCHA DOS BUNDÕES

A gatinha de saia que entre em contato com o blog pra exigir respeito

Pedalar nas entranhas de uma avis rara e ocasionalmente cinza como Florianópolis deve ser interessante. Andar de magrela em uma hidra de xenófobos, paraíbas e patricinhas beberronas como São Paulo deve ser burrice. Mas andar de magrela sem roupa, com o selim enfiado no cu até o surgimento de uma risadinha marota é para poucos. Poucos desocupados com muita veia artística, muita inclinação ao exibicionismo gratuito, à inconsequência diante do pragmatismo com que se deve tratar o trânsito, vontade excessiva de morar em Estocolmo e nenhuma vontade de eliminar seus incompreensíveis pneus de não-comedores de carne. 

Portanto anotem aí vantagem desse Bloco da Endoscopia Móvel: baixa adesão de cidadãos lúcidos. Ele é um fracasso. Cá nos nossos buracos distantes de SP e SC, sigamos tratando as bicicletas como elas são: coisas para andar longe de carros. E de cus marotos.

Outra constatação importante: as fêmeas bicho-grilo já estão se depilando em bando. Elas cansaram de 1968. Passaram para 1975.


Isso sim é um 'assento' agudo